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Cordial Abraço,
Julio Cesar Borges Baiz
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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Síndico: Além do profissional, o “psicólogo”


Julio Cesar Borges Baiz*


No meio de 2015, ouvi a seguinte história:
Brigas, discussões e gritaria em uma unidade de um condomínio de luxo.
Várias multas aplicadas e nada de se resolver o problema.
Tratava-se do desrespeito ao “sossego”.
Até que um dos vizinhos gravou o áudio de uma das brigas e mostrou ao síndico.
O síndico refletiu sobre todo o histórico e, em um dia normal, na garagem, encontrou o proprietário da unidade que estava causando todo o desassossego no prédio.
Foi então que o cumprimentou e disse:
- Sindico: Senhor Cláudio, quando estiver mais tranquilo vamos conversar?
- Proprietário: Podemos sim, mas é sobre o que senhor Orlando?
- Síndico: Sobre uma solução para o senhor não receber mais multas!
- Proprietário: Podemos falar sobre isso outra hora porque estou atrasado.
- Síndico: Ok, nos falamos.”
Duas semanas depois... Num domingo, quando ambos se encontraram na área de laser do condomínio, com seus respectivos cachorros... Cumprimentam-se e o proprietário disse ao síndico:
- Proprietário: Então senhor Orlando, o que queria falar comigo?
- Síndico: Olha só senhor Cláudio, eu já lhe apliquei várias multas por barulho e perturbação do sossego de outros moradores não é mesmo?
- Proprietário: Sim, é verdade... Mas e daí?
- Síndico: Daí que eu desejo parar com isso! Desejo parar de lhe aplicar multas! Desejo não ter mais reclamações! Desejo ter o meu sossego!
- Proprietário: Certo, acho justo. Mas sou proprietário aqui e não vou mudar meus hábitos dentro do meu apartamento!
- Síndico: Sabe senhor Cláudio, certa vez, quando ainda era uma criança, eu e meus pais morávamos em um apartamento e toda a noite meus pais discutiam, e gritavam, e falavam palavras ofensivas uma para o outro... E eu era uma criança e ficava chorando no meu quarto com medo dos meus pais se separarem e eu ficar sozinho, sem ninguém...
- Meu pai, em uma dessas discussões, acabou sofrendo um infarto e faleceu... Até hoje eu penso nesse dia... Penso que poderia ter ido lá e dito para eles pararem de brigar... É um trauma que carrego até hoje, desde a minha infância...
- Proprietário: Poxa vida senhor Orlando... Eu não fazia ideia... Meus sentimentos pela sua perda!
- Síndico: Sabe senhor Cláudio, minha preocupação é com as suas duas filhas!!! O senhor já viu elas no parquinho?
- Proprietário: Já sim... Mas o que tem?
- Síndico: É que elas estão sempre sozinhas... Não brincam com nenhuma outra criança e estão sempre quietinhas... pensando e pensando... Ficam no parquinho e não brincam!
- Elas tem o mesmo comportamento que eu, na idade delas!
- Falei tudo isso para o senhor perceber que existem duas menininhas lindas que estão precisando da sua ajuda! E só o senhor pode ajudá-las... Ah, se o meu pai tivesse percebido isso em mim... Pense nisso, por favor!
- Bom, tenho que ir! Hoje vou almoçar na casa de um dos meus filhos... Todo o domingo revesamos o almoço na casa de um deles!
- Proprietário: Que bom senhor Orlando, sua família parece ser bem unida! Quantos filhos os senhor tem?
- Síndico: Tenho quatro filhos!
- Proprietário: Nossa... quantos... O senhor deve ter gritado muito com eles, não é mesmo?
- Síndico: Na verdade não... Eu sempre conversei com todos juntos na mesa do jantar!
- Sempre que um deles aprontava alguma coisa, eu deixava os quatro de castigo. Que era para um aprender com o outro e serem muito unidos... Como eu sou filho único, fui conhecer uma família grande depois que tive meus filhos... Então tentei educá-los assim...
- Bom, senhor Cláudio, tenho mesmo que ir... Espero que dê tudo certo ao senhor e à sua família!
- Proprietário: Obrigado senhor Orlando! Bom domingo ao Senhor!”
Passaram-se mais de seis meses sem reclamações ou multas.
E o síndico, que me contou essa história, faleceu no último mês de fevereiro.
Como amigo da família, fui no seu velório e conheci pessoalmente o senhor Cláudio, que estava muito triste com a perda do senhor Orlando.
O Cláudio resolveu dar seu testemunho no velório e disse:
- O Orlando foi um pai para a minha família! Perdi um grande amigo!”
Nota: Pretendi ser o máximo fiel à história, preservando a identidade dos seus personagens.

* O autor é Gerente de Comunicação na empresa Diário das Leis. Diretor na JCB Comunicação. Apresentador do programa Condomínio em Debate.